terça-feira, 19 de julho de 2011

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO

Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, fumando o seu cachimbo um triste Preto Velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pela face e… Foram sete.
A Primeira… A estes indiferentes que vem no Terreiro em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber;
A Segunda… A esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam;
A Terceira… Aos maus, aqueles que somente procuram a umbanda em busca de vingança, desejando sempre prejudicar ao semelhante;
A Quarta… Aos frios e calculistas, que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma, e não conhecem a palavra gratidão;
A Quinta… Chega suave, tem o sorriso, o elogio da flor dos lábios, mas se olharem bem seu semblantes verão escrito: creio na Umbanda, nos teus Caboclos e no teu Zambi, mas somente se resolverem o meu caso ou me curarem disto ou daquilo;
A Sexta… Aos fúteis, que vão de centro em centro, não acreditando em nada, buscam aconchego, conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente;
A Sétima… Como foi grande e como deslizou pesada! Foi à última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Aos médiuns vaidosos (as), que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas. Esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade e tantas criancinhas precisando de amparo material e espiritual.
  • As Sete Lágrimas De Um Preto Velho

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O CULTO DOS EGUNS NO CANDOMBLÉ

Os negros iorubanos originários da Nigéria trouxeram para o Brasil o culto dos seus ancestrais chamados Eguns ou Egunguns. Em Itaparica (BA), duas sociedades perpetuam essa tradição religiosa.
(Revista Planeta n.º 162 - março 86)

Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos. Os iorubanos - um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários agrupamentos tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição, principalmente religiosa - nos enriqueceram com o culto de divindades denominadas genericamente de orixás.

(1 - Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os termos em língua yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)

Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto final da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em um dos seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é o fato terrível e angustiante para eles não reencarnar.


Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Iami Oxorongá, chamada também de Iá Nlá, a grande mãe.


Esta imensa massa energética que representa o poder de ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Geledê", compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Iami nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino (veja a lenda sobre Odu).


Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual Iami Oxorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Iami quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Iami é maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.


Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada pelas "Sociedades Egungum". Estas têm como finalidade celebrar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte, denominada Egum ou Egungum. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantém a individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.


Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana.


No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em Itaparica, Bahia (veja quadro histórico).


O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum ancestral individualizado está de novo "vivo".


A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa.


Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente - característica de Egum, chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria (veja lendas de Oyá).
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egum) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egum está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egum.

A roupa do Egum - chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o Egungum propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a "morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egum se tornará um "assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.
Ora, o Egum é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes - como os ojé atokun, que invocamm, guiam e zelam por um ou mais Eguns - desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixã.

Os Egum-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egum (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.
O eku dos Babá são divididos em três partes
• o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas, formando uma espécie de franjas ao seu redor;
• o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e
• o banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico.


Na Nigéria, os Agbá-Egum portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em madeira chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.


Existem várias qualificações de Egum, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.


Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.


Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.

Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos - estes são elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egum ali cultuado - , e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local.

Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egum a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios Eguns (veja Mitos Oyá-Egum).

No balé os ojê atokun vão invocar o Egum escolhido diretamente no assentamento, e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de Egum - nasce através do conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egum se torna visível aos olhos humanos.


Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é realmente perfeito.


O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.


Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egum - estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis.


São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los(ver quadro: oiê femininos).


Este espaço sagrado é o mundo do Egum nos momentos de encontro com seus descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã encontram.
Fonte: O Mural dos Orixás.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Orunmila evita a morte prematura

Aconselhado por Oya, Orunmila foi consultar Ifá no dia em que Iku (espírito da morte ) planejava passar pela sua casa.
Orunmila atendeu a advertência, e colocou oferendas em volta da sua casa.
Quando Iku se aproximou da casa, viu tantas oferendas,  que sentou para comer. Ao terminar, iku avistou Orunmila e iniciou uma perseguição, mas a comida lhe deixou lento, e iku…
não conseguiu pegar Orunmila.
De longe, Orunmila perguntou a Iku: __ por que havia vindo ao mundo?…
__ Iku respondeu: venho para levar alguém que seja imprudente. Devo levá-lo comigo para o lugar dos antepassados. Porém, como posso ser grosseiro com alguém que me ofereceu comida?!

Este itan destaca a importância fundamental da oferenda. Ou seja: fazer oferenda, é ser prudente, é evitar a morte prematura. Neste Itan, Orunmila conseguiu evitar a morte prematura, através das oferendas apropriadas.
Todos temos o nosso tempo de vida máximo predeterminado, e que não pode ser extendido. Porém, pode ser diminuido, através de um comportamento imprudente, desatento…
Vimos que foi Oya que avisou a Orunmila. Oya representa os ventos que sopram e formam redemoinhos. Que como tudo, apresetam os aspectos positivos e negativos. Positivo, por espalhar as sementes que semeiam o solo. Negativo, por espalhar bactérias que causam epidemias.
Orunmila evitou a sua morte prematura, porque foi sensível a mensagem do espírito do vento.
Lembramos, como mostrado nesse e em tantos outros Itans, a importância que a oferenda tem dentro do culto.

Iyá-Mi Osorongá

Iyá-Mi Osorongá

As Senhoras do Pássaros da Noite – Quando se pronuncia o nome de Iyá-Mi Osorongá, quem estiver sentado deve-se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a quem se deve apreço e acatamento.
 

Iyá-Mi Osorongá é a síntese do poder feminino, claramente manifestado na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o mundo. Quando os Iorubas dizem “nossas mães queridas” para se referirem às Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.

Donas de um axé tão poderoso como o de qualquer Orixá, as Iyá-Mi tiveram o seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de Março e Maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.

As iyá-Mi tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e a sua fama de grandes feiticeiras associou-as à escuridão da noite; por isso também são chamadas Eleyé, e as corujas são os seus principais símbolos.

A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à explicação e ao controle humano. Toda a mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyá-Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos, assustou sempre os homens.

As mães são compreendidas como a origem da humanidade e o seu grande poder reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver.

Iyá-Mi é a sacralização da figura materna, por isso o seu culto é envolvido por tantos tabus. O seu grande poder deve-se ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo o que é redondo remete ao ventre e, por consequência, às Iyá-Mi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá-Mi é manifesto em toda a mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu.

As denominações de Iyá-Mi expressam as suas características terríveis e mais perigosas e por essa razão os seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas quando se disser um dos seus nomes, todos devem fazer reverencias especiais para aplacar a ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte.

As feiticeiras mais temidas entre os Iorubas e no Candomblé são as Àjé e, para se referir a elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do Pássaro.

O aspecto mais aterrador das Iyá-Mi e o seu principal nome, com o qual se tornou conhecida nos terreiros, é Osorongá, uma bruxa terrível que se transforma no pássaro do mesmo nome e rompe a escuridão da noite com o seu grito assustador.

As Iyá-Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas no seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo o tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.

O lado bom de Iyá-Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi. As Iyá-Mi, juntamente com Exú e os ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que, entre outras coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé, denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois um dia, quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá-Mi, que são, na verdade, as mulheres ancestrais.

Onira - A Senhora de Ira

Conta-se que Onira era uma ninfeta que sonhava com a vaidade de Òsún. Todos os dias,  ela ia ver Òsún se banhar no rio, apreciava como ela cuidava dos cabelos, peles e  etc. Havia uma pedra no meio deste rio que até uma determinada hora, quando as águas ainda estavam baixas, ela se apresentava como uma ilha e era onde Onira ficava até que as águas começassem a subir. Num belo dia, Onira adormeceu e as águas subiram o seu nível rapidamente e a encobriu antes que ela pudesse acordar. Neste mesmo momento Onira estava sonhando que era uma Òsún. Conta esta itan (lenda), que o Criador se penalisando de tão lindo sonho não permitiu que Ikù a pegasse e a encantou naquele exato momento, o que lhe permitiu de continuar vivendo este sonho na sua vida real.

Conta-se um outro itàn, que existia nas terras de Irá, uma linda moça chamada Onira, ela sempre comandava seu povo com sabedoria. Mas, ela tinha um grande problema: adorava lutar e se sentia bem em matar seus inimigos. Onira era descontrolada quando tinha em punho sua adaga de guerra. Certo dia enlouqueceu de vez, chegou a um vilarejo e matou todos q alí encontrou. Os sábios da cidade de Irá resolveram procurar Osáàlá para que Ele na condição de Rei, mandasse que Onira parasse de matar.
Onira recebeu o recado q Osáàlá queria vê-la e foi até Ilê Ifé (palácio de Osáàlá). Chegando lá, Osáálá assustou-se, pois as roupas de Onira eram vermelhas, de tanto sangue de suas vítimas. Ela ajoelhou-se e perguntou o que o grande Rei queria. Osáàlá mandou que trouxessem uma grande quantidade de Efun (seu pó branco sagrado). Pegou seu pó e jogou sobre Onira. Na mesma hora suas vestes de cor vermelha, tornaram-se rosa, por causa da mistura do pó branco com o sangue. Então, Osáàlá ordenou que Onira não mataria mais ninguém, e que ela jamais vestiria vermelho em publico, e que rosa seria sua cor, e como ela era uma moça tão quente, que fosse morar nas águas junto com Òsún.
E lhe disse:
Onira minha filha, és uma moça tão bela, tão doce, por que matas?
Sinto-me bem quando tiro a vida de alguém, mas sei q isso não é certo.
Foi então q Osáàlá teve uma idéia.
Já que você gosta lidar com a vida e com a morte, você terá junto com Oyá o domínio sobre os Eguns. Não tirarás mais a vida de ninguém, apenas irá conduzir os que já se foram.
Está certo Osáàlá, seu desejo será realizado mas não tire de mim minha adaga.
Osáàlá disse: Pode deixar, mais agora vá morar na cachoeira com Òsún.
Onira obedeceu a Osáàlá, foi morar na cachoeira. Chegando lá Òsún ria e debochava dela, mais resolveu ser sua amiga. Porém, Onira muito mal humorada, não queria papo. Até que um dia Onira adormeceu sobre uma pedra, olhando Òsún banhar-se e as águas da cachoeira subiram e Onira estava morrendo afogada, Òsún vendo o que estava acontecendo, mergulhou e foi salva-la, chegando lá Onira estava quase morta e Òsún resolveu fazer um feitiço e na mesma hora Onira reviveu e transformou-se em uma espécie de lava que correu rio a fora. Onira transformou-se em um rio de fogo. Òsún pensou que Onira havia morrido, chorou por horas, sem saber o que diria a Osáàlá, já q ele a incubiu de tomar conta da moça atrevida. Foi então que surgiu uma borboleta linda, de cor salmão com tons alaranjados, que voava ao redor de Òsún. Ela tentou pegar a borboleta que voou para dentro da floresta, Òsún seguiu a borboleta que parou em frente a uma árvore e tomou a forma da linda Onira. Òsún não acreditava no que via, e Onira lhe disse:
Por que choravas minha amiga, estou aqui viva, e graças a você!
Graças a mim porquê Onira? Eu não fiz nada.
Na hora que eu estava morrendo você fez um feitiço e dividiu comigo todo seu encanto, agora sou uma ninfa (mulher encantada), assim como você, tenho poderes de transformação. Posso ser um rio de fogo nos meus momentos de ira, posso ser um búfalo quando eu quiser ficar sozinha, e me transformar na mais bela borboleta quando estiver feliz. E Onira foi até Osáàlá lhe contar o q havia acontecido, ele ficou feliz mais sabia que toda esta mudança jamais acalmaria Onira, e que por dentro ela ainda seria aquela guerreira incansável. Mandou então que ela fosse morar com Oyá e aprender a dominar os Eguns. Depois, Onira mudou-se e foi viver com Osóòsi e como ela foi criada por caçadores, sabia caçar como ninguém. E Onira morou com quase todos os Òrìsás, aprendendo tudo que eles sabiam fazer.
 

Onira = a Senhora de Irá (terra de Oyá) 

Ela é impulsiva e suas filhas carregam suas características, são capazes em momentos de comoção doar, na hora e sem pensar, tudo o que tem, mas se a pessoa fizer uso indevido daquilo que ela doou, ela vai pra cima, sem mais delongas, se ela for traída então piorou, são capazes de tudo na hora de raiva; mas acabando esses momentos de impulsividade  momentânea são pessoas maravilhosas, prestativas. Possuem um pouco de difículdade em guardar segredos, mas, em determinadas ocasiões, sabem manter a regra.


Não vesti roupas de cores quentes, tendendo sempre ao rosa, amarelo, azul claro ou salmão para quebrar o branco total, mas geralmente rosa, devido ao seu cárater explosivo e também ter um enredo muito grande com Òsáàlá, porque foi esse caminho de Oyá que deu a Osògiyan, o poder sobre o atòri. Quando essa Oyá se manifesta é de costume colocarem ou preso em suas costas ou em sua saia um atòri, e é presença a ilustre nas festas dedicadas a Òsáàlá.


Onira reina no mundo dos mortos e tem ligação direta com Obaluwaiyè e Ògún, sendo que sua ligação maior é com Òsún Opará, que recebeu dessa qualidade de Oyá os ensinamentos para lutar e ser guerreira. 


Òsún Opará ser tornou então, companheira inseparável de Onira, comendo juntas no bambuzal ou nos rios e tendo aprendido os fundamentos dos Eguns. Sendo assim, essa qualidade de Òsún, também tem relação direta com os Eguns. Quando “Onira” e “Opará” se juntam, se tornam muito perigosas pois têm em dobro a força e a sabedoria dos guerreiros.


Òsún Opará é um caminho de Òsún jovem e guerreira, companheira de Ògún e Sangò, estando ligada diretamente com os caminhos de Osògiyan, o jovem guerreiro.



Onira está Ligada a Osògiyan, Òsún, Ògún, Ode, Obaluwaiyè ...


Fonte: www.candomble.wordpress.com (itans)

Exu o imenso Infinito

EXU e um Orixá indispensável dentro do culto, sem ele não existe Orixá, pois é ele que serve de mensageiro entre os Deuses e os seres humanos. Exú é o guardião das casas, dos templos das cidades e das pessoas. Toda vez, que for fazer algo a algum Orixá deve ser feito primeiro oferendas à Exú. Ele pode ser considerado o mais humano dos Orixás,  nem mau, nem bom. Exú foi criado da mesma matéria divina da qual os seres humanos foram criados. Como Orixá, diz-se que ele veio ao mundo com um porrete chamado Ogò, que  teria a propriedade de transporta-lo, ele representa também toda a fertilidade que é consagrada a ele. Mensageiro dos homens aos orixás. Elemento dinâmico, caminha entre o céu ( orun ) e a terra ( aiyê ), sempre levando mensagens dos filhos aos orixás. Exú é único, e como único tem o poder de transformar tudo a sua volta. Exú está a frente da evolução do mundo, participando de tudo ao seu redor. Todo ser humano possui seu Exú individual, como tem seu Orixá. Exú é responsável pela comunicação, pela evolução, pois está associado  a atividade sexual, que assegura  a continuidade da espécie humana. Como é ligado a evolução, também é ligado ao destino das pessoas, e com isso pode circular livremente entre todos os elementos da terra. Ele também representa o feminino e o masculino. Exú, pôr ser o senhor dos caminhos, pela responsabilidade que ele tem, é o primeiro a ser cultuado em qualquer ritual. Somente ele tem o poder de abrir ou fechar os caminhos, conforme for tratado. Tanto pode trazer coisas boas, como má, pelo fato de estar sempre no caminho. A presença de Exú é necessária, pois somente ele transporta as oferendas e somente ele pode fazer aceita-las ou não. Se não agraciado no início de qualquer ritual, pode haver um desequilibro, o que faria que ele fechasse os caminhos e liberasse forças negativas para castigar quem não o tratou direito, pois ele pode punir ou proteger. Mas bem tratado, ele somente semeia o bem, fertilidade, saúde, harmonia. Seu local consagrado para adoração é a encruzilhada (orita), aonde todos os caminhos se cruzam, para poder observar e a partir daí, controlar todos os caminhos. A rosa dos ventos o representa pois ela representa todas as direções do mundo. Diz-se que Exú nasceu com uma lamina sobre a cabeça. Isso por sinal, é dito em uma de suas saudações;

"Sonsó óbè kó lórì erù" ( A lâmina é afiada, ele não tem cabeça para carregar fardo)
Exú é considerado a terceira cabaça da existência, muito embora ele seja considerado como o primeiro Orixá a pisar na Terra, Oxalá é a primeira cabaça da existência e Oduduá é a segunda cabaça.
Èsù é um Òrìsà de grande importancia entres os Yorùbá. Por ser muito corajoso e esperto, é considerado maior do que os outros Òrìsà, e nunca é esquecido por seus cultuadores que, a fim de aplacar sua ira, fazem-lhe as oferendas de alimentos sempre em primeiro lugar. Pode ser maldoso a qualquer momento, sendo por isso chamado de Buruku (qualificação maligna).
   
Os Yorùbá acreditam que ele sempre carrega um objeto chamado Agongo Ogo, com o qual realiza suas maldades. A imagem de Èsù é feita de um conjunto de pedras (Yangi). Fazem-lhe sacrifícios para mantê-lo em frente de casa, mas sua imagem jamais é mantida no interior do lar, sob pena de amaldiçoar a família.
É comum oferecer a Èsù, entre outros, bodes (Òbúko), azeite-de-dendê (Epò Púpà), galos (Àkùko), caracóis (Ìgbín), acaçá e Obí. Sobre sua imagem (Ère) colocam-se azeite-de-dendê (Epò Púpà) e sangue de animal ( Èjè), simbolizando seu banho por essas substâncias. Èsù é inimigo de alguns Òrìsà. A fim de incitá-lo à maldade contra alguém, coloca-se sobre sua imagem (Ère) um óleo denominado adí e um bilhete contendo o nome da pessoa contra quem se pratica o feitiço. Pessoas pedem também fecundidade a esse Òrìsà. Conseguindo-a, dão a seus filhos nomes que incluem o de Èsù, tais como Èsùtosin (É bom cultuar Èsù), Èsùbìyí (Nascido de Èsù) etc. Èsù possui também outros nomes, como Elégbára, Elégbáa, Leégbá.
As cidades onde se cultua Èsù são: Ondo, Ilesa, Ijebu, Abeokuta e Ekiti. Há cem anos atrás costumava-se sacrificar seres humanos em homenagem a Èsù, pratica hoje abandonada.
 

Reza para ÈSÙ
Este ADURA é para pedir proteção a ÈSÙ e abrir nossos caminhos. Este ÀDÚRÀ é tão simples e lógico que é bom memorizá-la e fazer dela nossa oração diária, bastando para isso rezá-la mastigando pimenta da costa 9 (nove) se for homem e 7 (sete) se for mulher. Faça esta oração e depois cuspa para frente a pimenta mastigada na boca.

ÈSÙ ONI BODE ODE ORUN OSETURA ENI OMO IYA ENI O MO BABA TI ADI TOJU BI OMO ELEGBARA IWO LA PE LONI WA JE WA LONI YI BI OMO TI NJE IYA RE WARA NITORI ROGBODIYAN ILE AYE PO JOJO OGUN NI WA, OGUN LEHIN ILE AYE OGUN OJOJUMO OGUN ATI YE TO MU OLOMO KI O MA MO OMO RE TO MU ORE DI OTA ARAWON TO MU ENI DU IPO OMO LAKEJI TO JEKI A FE OJU MO NKAN ENI A WA BE BE FUN ABO RE ÈSÙ LALU WA GBO ORO ATI AROYE WA SO WA BABA NJADE LO SO WA TI A PA PADA WA LE WA KI OGUN AYE MA LE RI WA GBE SE ÈSÙ OLO NA ONA TI ESU BA SI ENIKAN KI DI WA SI ONA FUN WA ENITI ÈSÙ BA SI ONARE LO SEGUN AYE SE WANI OLUSEGUN KI OTA MA LE RI NA GBE SE ENI ONA RE BA SI PEREGEDE LONI ALAFIA BABA ORO ÈSÙ ODARA DA ABO RE BO WA LONI ÀSÉ ÀSÉ ÀSÉ

ÈSÙ guardião do Céu OSETURA Aquele que não conhece sua mãe Aquele que não conhece seu pai Mas que recebeu todo  cuidado de ADI O dinâmico É você que estamos chamando Venha nos atender hoje Assim que o filho atende sua mãe As intrigas deste mundo estão demais A guerra está na frente, a guerra está atrás de nós O  mundo é uma guerra diária A guerra de sobrevivência Que fez os pais desconhecerem seus filhos Que fez os amigos virarem   inimigos Que fez pessoas tomarem o lugar dos outros Que fez com que colocassem olho grande em nossas coisas Nós estamos pedindo a sua proteção ÈSÙ, o ouvidor Venha ouvir nossas palavras e reivindicações Proteja-nos ao sairmos de casa Proteja-nos ao voltarmos para casa Que a guerra deste mundo não consiga nos vencer ÈSÙ o dono dos caminhos O caminho que ÈSÙ abre ninguém é capaz de fechar Venha abrir nossos caminhos Aquele a quem ÈSÙ abrir os caminhos será o vencedor na guerra da vida Faça de nós vencedores Que o inimigo não consiga nos vencer Aquele que tem seus caminhos abertos Terá saúde, o pai de todas as riquezas ÈSÙ o  imprevisto venha a nos proteger hoje com todas as forças ÀSÉ.

Rosa dos Ventos, representa os domínios de Exú.
 As direções do mundo

OS DEZESSEIS TÍTULOS DE ÈSÚ
Èsú Yangí - O Senhor da Pedra Vermelha “Laterita”
Èsú Agba - O Grande Senhor dos Ancestrais
Èsú Igba Keta - O Senhor da Terceira Cabaça
Èsú Okoto - O Senhor do Caracol
Èsú Oba Baba Èsú - O Rei e Pai de todos os Èsú
Èsú Odara - O Senhor Dos Bons Pedidos, e da Felicidade
Èsú Ojisé - O Mensageiro dos Orisa
Èsú Eleru - O Senhor das Obrigações e Rituais
Èsú Enu Gbarijo - O Senhor da Boca Coletiva
Èsú Elegbara - O Senhor do Poder Mágico
Èsú Bara - O Senhor do Corpo
Èsú L’Onan - O Senhor dos Caminhos
Èsú Ol’Obé - O Senhor da Faca
Èsú El’Ebo - O Senhor dos Ebos e Oferendas
Èsú Alaafia - O Senhor da Satisfação Pessoal
Èsú Oduso - O Vigia dos Odus

 Aspectos Gerais
 
DIA: Segunda-feira.
DATA: Todos os dias são de Exu.
METAL: Não tem, sua matéria é a terra em seu estado de pureza.
CORES: Preto (ou seja, a fusão das cores primárias) e vermelho.
COMIDAS: Farofa de azeite-de-dendê, ekó (acaçá), carne mal passada.
SÍMBOLOS: Ogó de forma fálica, falo ereto.
ELEMENTOS: Terra e fogo.
REGIÃO DA ÁFRICA: Exu é universal.
PEDRAS: Rubi e Granada.
FOLHAS: Folha de fogo, coração-de-negro,aroeira vermelha, figueira brava, bredo, urtiga.
ODU QUE REGE: Okaran e Owarín.
DOMÍNIOS: Sexo, magia, união, poder e transformação.
SAUDAÇÃO: Laroié!
 
A saudação de Exú, Laroiê pode ser traduzida como Pessoa muito falante. Então ao dizermos Laroiê Exú estamos dizendo Exú o falante.

Adurá
Eke a pá elekee
Odale a pá Odale
Oun ti a ba se nisalé ilé
Oju Olodumare nii too
Difa fun Amookun-se-ole
To ni oba aye ko ri oun
Bi oba aye ko ri o nko
Oju Olodumare nwo o
Tradução

Mentira matará o mentiroso
Traição matará o traidor
Tudo o que você faz em um lugar escondido
Todo poderoso Olodumare está observando
Estas sãos as declarações de Ifá para
Ele-quem-usa-roupa-da-escuridão-para-roubar
E ele diz que ninguém toma conhecimento
Se os reis mundialmente não o vissem
Todo poderoso Olodumare está olhando para você
 
 

Oriki Esu


Èsù òta òrìsà.
Exú, o inimigo dos orixás.
Osétùrá ni oruko bàbá mò ó.
Osétùrá é o nome pelo qual você é chamado por seu pai.
Alágogo Ìjà ni orúko ìyá npè é,
Alágogo Ìjà é o nome pelo qual você é chamado por sua mãe.
Èsù Òdàrà, omokùnrin Ìdólófin,
Exú Òdàrà, o homem forte de ìdólófin,
O lé sónsó sí orí esè elésè
Exú, que senta no pé dos outros.
Kò je, kò jé kí eni nje gbé mì,
Que não come e não permite a quem está comendo que engula o alimento.
A kìì lówó láì mú ti Èsù kúrò,
Quem tem dinheiro, reserva para Exú a sua parte,
A kìì lóyò láì mú ti Èsù kúrò,
Quem tem felicidade, reserva para Exú a sua parte.
Asòntún se òsì láì ní ítijú,
Exú, que joga nos dois times sem constrangimento.
Èsù àpáta sómo olómo lénu,
Exú, que faz uma pessoa falar coisas que não deseja.
O fi okúta dípò iyò.
Exú, que usa pedra em vez de sal.
Lóògemo òrun, a nla kálù,
Exú, o indulgente filho de Deus, cuja grandeza se manifesta em toda parte.
Pàápa-wàrá, a túká máse sà,
Exú, apressado, inesperado, que quebra em fragmentos que não se poderá juntar novamente,
Èsù máse mí, omo elòmíràn ni o se.
Exú, não me manipule, manipule outra pessoa.
 
 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Candomblé: Repressão através dos jornais no século XX

  RESUMO: O presente trabalho foi desenvolvido a partir da reportagem divulgada pelo Diário de Noticias, em 14 de setembro de 1951, cuja chamada do Box em destaque é agressivamente apelativa: “O Deus tem sede de sangue”; pela primeira vez um jornal publicava uma fotografia de uma iniciação no Candomblé, uma cena muito forte a um olhar leigo: o sacrifício de um animal na cabeça de uma iaô[1]. As imagens e as informações divulgadas pela mídia, mais uma vez, serviram para justificar os preconceitos e perseguições sofridas pelo candomblé.
Palavras Chaves: Sociedade escravista; Conchavos; Confrarias religiosas; Candomblé, iaô.
Introdução
Este artigo foi desenvolvido com o intuito de elucidar quais foram as formas de repressão sofridas pelo candomblé no século XX, e qual a sua origem. E para desenvolvê-lo utilizei como referencial uma reportagem divulgada pelo Diário de Noticias, em 14 de setembro de 1951, “O Deus tem sede de sangue”.
No primeiro item pretendo esclarecer a origem das perseguições ao candomblé, ou seja o seu contexto histórico, cuja todos nós sabemos que se iniciou com a escravidão africana aqui no Brasil, e o processo de dessocialização do negro. Sendo necessário destacar a situação social destes negros no período sistema escravista e com o advento da república; entendendo também qual a participação da Igreja Católica na formação do culto de matriz africana. Pois, de um lado, as confrarias religiosas permitiram a estes negros (africanos ou crioulos) alguma forma de reunião e organização social; e de outro, a Igreja tentou justificar o trabalho penoso do escravo e a necessária submissão e obediência deles. Os dois últimos itens _ os jornais como mecanismo de repressão e o advento da república e a abolição _ tratam dos mecanismos “recriados” na república para controlar e reprimir a população negra, inclusive, o candomblé.
A partir de uma abordagem micro-histórica, com o recorte de uma matéria jornalística para entender a sociedade do século XX, utilizei como metodologia cientifica o Materialismo Histórico Dialético. Uma vez que, esta proporciona uma compreensão das tensões sociais produzidas pelas classes sócias, antes e após a proclamação da república, e da firmação da burguesia como classe social hegemônica.
1. O contexto histórico das perseguições.
Para compreender a origem das perseguições sofridas pelo candomblé, na Bahia, é necessário iniciar este trabalho estabelecendo qual a origem desses preconceitos e perseguições: a escravidão negra. Entendo também quais foram as diferenças significativas entre a escravidão praticada pelos africanos e a que surgiu no Brasil
A experiência da exploração da mão-de-obra servil, tal como foi organizada na América, estava muita mais próxima das modalidades de escravidão antiga do que da servidão patriarcal africana[2]. Uma vez que, os estados guerreiros, caçadores e fornecedores de escravos, não conheciam por experiência própria esse tipo de exploração.
Não convém afirmar que existiu um modelo único de escravidão, e sim as múltiplas formas da condição escrava no Brasil. Essa escravidão deve, em primeiro lugar, contribuir para o desenvolvimento de um tipo agrícola, de metais nobres e pedras preciosas e, mais tarde nos centros urbanos, para uma produção artesanal e serviços sociais.
O negro africano é retirado do seu meio social, e como tal permanecerá até ser metido na sociedade escravista. E essa inserção será tão difícil quanto à captura violenta e brutal, que rompeu com todo o seu relacionamento anterior, como os laços de familiaridades, de clã, de comunidade. O que Matoso (1990) chama de dessocialização, que implica fatalmente na despersonalização do individuo, segundo ela.
É interessante ressaltar, que se realmente houvesse uma despersonalização do negro africano como foi citado, as religiões de matrizes africanas ou o candomblé, como passou a ser conhecido a partir do século XX, não existiriam. Já que estas manifestações religiosas configuram um resgate da identidade africana.
Contudo, a dessocialização definida pela autora de “Ser escravo no Brasil” é peça fundamental para o sistema escravista. O comprador deseja que os escravos sejam modeláveis, maleáveis em todos os domínios, econômicos e sociais.
2.Características da ordem escravista
Para  ordem escravista, o escravo é “inferior” ao seu dono, é uma “coisa” privada de personalidade jurídica e não pode dispor de si mesmo. Mas, para entender a base ideologica da escravidão negra aqui no Brasil é necessário compreender as realções senhorias existentes antes da proclamação da república. O modelo social neste período era masculino, branco, católico, proprietário de terra e das condições de produção; assim tudo que fosse contrário a este modelo social era perseguido, discriminado.
Essa sociedade estava fundamentada nas relações de privilégios e conchavos; em geral os senhores preferiam a persuasão à imposição. Na Bahia, os senhores de engenho substituem a violência e as ameaças por uma verdadeira manipulação de caráter patriarcal e paternalista. Busca fazer do escravo um servidor, um membro da grande família. Desta forma, o escravo adquire certa identidade social, o nome do senhor lhe é dado e ele percebe o peso especifico que ele adquire frente ao homem livre. Assim os senhores de escravo economizam os custos da vigilância, e o risco de ser atacados. São desses privilégios que nasce a função de “feitor”, mestre, cabo de turma, que causa a impressão, nestes escravos, de terem passado para o lado da autoridade. “Dá-me a tua lealdade e eu te darei a proteção e a identidade de minha família”. Contudo, apesar dessas intimidades, o mundo dos senhores e dos escravos permanecem cultural e socialmente separados, antagônicos, confrontando-se de maneira irredutível.
Ainda há certa mobilidade que permite o escravo passar da condição de mão-de-obra à de artesão de talento ou domestico; o que gera também a esperança de uma alforria se os valores ocidentais forem aceitos e renegada a herança africana.
2.1 Nas cidades
Até começos do século XIX, fundam-se confrarias religiosas para os escravos, com o devido cuidado dos senhores em misturar etnias e comunidades, tornando menos homogêneo o grupo de escravos e evitando certas formas de revolta. Alguns senhores chegaram ao ponto de atiçar a rivalidade entre etnias, oferecendo aos escravos de uma delas os serviços suaves e a outras as tarefas penosas.
Os privilégios que gozam os escravos da cidade parecem ser os mesmos dos escravos domésticos. Diferente do horizonte limitado para o escravo do campo, das lavouras. Geralmente os escravos escolhidos para os serviços pessoais eram aqueles que se aproximavam do modelo branco, o mulato, negros nascidos no Brasil. Além disso, os escravos domésticos e/ou das cidades eram indispensáveis aos seus senhores; pois eram eles que saíam com seus tabuleiros de doces e rendas para venderem nas ruas, gerando rendas suplementares.
“A casa, o tipo de habitação, sabe-se que é uma das influências sociais que atuam mais poderosamente sobre o homem. Sobre o homem em geral, mas, em particular, sobre a mulher, quase sempre mais sedentária ou caseira especialmente dentro do sistema patriarcal, inimigo da rua e até da estrada, sempre que se trate de contato da mulher com o estranho.” [3] As senhoras brancas não tinham acesso à rua; pois, esta era considerada impura e apropriada pelas chamadas “mulheres públicas” ou prostitutas. Daí a importância do escravo doméstico, como já foi dito, são eles que saem nas ruas pra vender as rendas produzidas por essas senhoras, quando não produzidas pelas próprias escravas.
Assim, o escravo doméstico, mais do que qualquer outro, deve praticar a obediência, a humildade e a fidelidade, virtude cardeais do bom escravo nos termos que o senhor o modela. Para o escravo a obediência não é totalmente fruto da necessidade gratuita.
2.2 No campo e nas lavouras
No meio rural a autoridade do senhor pesa mais do que na cidade, onde o controle branco é bem mais suave e os negros em maior número podem reagrupar-se por nações.
Nos cafezais e canaviais o escravo fará parte de um grupo de 12 a 15 pessoas, se for considerado jeitoso passa a trabalhar com um escravo antigo para aprender uma especialização, como pedreiro, marceneiro, ferreiro. Ofícios que muitos africanos já desenvolviam em suas antigas comunidades africanas; e os crioulos aprenderam por gerações. Já nas cidades, os senhores preferiam alugar os serviços de escravos capacitados, e costumavam também colocar jovens negros nas oficinas de mestres, geralmente escravos alforriados que se tornaram mestres-instrutores temporários do aprendiz.
Segundo dados levantados por Edmar Ferreira (2009), as mulheres do serviço doméstico estavam mais “próximas” dos seus senhores, por isso sofriam maior coerção  e eram obrigadas a abandonar suas heranças africanas em troca de concessões, de favores. Já as mulheres que trabalhavam na rua, como ganhadeiras e/ou prostitutas, dispunham de maior liberdade para participar dos batuques, sambas e lavagens, para cumprir com suas obrigações religiosas e celebrar com os Inkices, Voduns e Orixás nas cercanias da cidade.
3. A Igreja Católica como mecanismo de repressão.
A sociedade escravista conta como apoio da Igreja Católica para ensinar aos seus trabalhadores as virtudes da PACIÊNCIA e da HUMILDADE, a RESIGNAÇÃO e SUBMISSÃO que  um BOM ESCRAVO DEVE TER.
Um dos fundamentos utilizados pela igreja para justificar a ideologia da escravidão, o conformismo era a comparação da Paixão de Cristo com a condição de escravo. “… Bem aventurados vós sois se souberes conhecer a fortuna do vosso estado… A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido e vós despidos, Cristo sem comer e vós famintos…” Trecho de um sermão citado por Kátia Matoso.
Trabalhar obediente e na humildade cristã são obrigações de um escravo; proteger seu trabalhador é dever do senhor, que deve zelar por esse capital precioso e tentar aumentar seu rendimento. Para o escravo obedecer é aprender o português, a pratica cristã e, acima de tudo, aprender a trabalhar bem; o que significa submeter-se a disciplina do grupo.
            Os conchavos, no campo da Religiosidade, ganham lugar a partir das Confrarias religiosas do tipo cristã _ sob a proteção da padroeira de Nossa Senhora do Rosário _ e os senhores autorizam as danças e as celebrações segundo os costumes africanos, desde que não choquem a moral ou a religião católica.
O senhor de escravo entende que existe a necessidade dos negros possuírem um refúgio, a fim de aliviar as tensões sociais ou possíveis rebeliões causadas pela formação dessa sociedade escravista. Por isso, criam as irmandades religiosas[4], ou ainda protegem a sobrevivência do que eles entendem como cultura negra; desde que, como já foi citado, não perturbe a ordem moral dessa sociedade.
Assim como no campo, as primeiras associações urbanas de negros são do tipo religioso, e imitam as confrarias importadas de Portugal. As confrarias das cidades coloniais são de homens brancos; somente a partir do século XVII, quando a população da cidade aumenta e junto com ela o número de escravos é que apareceram as primeiras confrarias de gente de cor. Elas se agrupam com homens livres, forros e escravos de acordo com suas origens étnicas, como a confraria Nossa Senhora da Baixa dos Sapateiros que admitiam negros angolanos, Nosso Senhor da Redenção composto por jêjes, outras confrarias só aceitavam mulatos, e assim por diante. Somente no século XIX, as distinções étnicas perdem valor dando lugar às associações civis.
4. Surgimento do Candomblé
Podemos afirmar _ a partir de documentações levantadas e até mesmo de depoimentos de algumas irmandades existentes na atualidade, como a irmandade da Boa Morte _ que os negros aproveitavam a liberdade das associações legais através das confrarias para manter os contatos que podiam levar a outros tipos de reuniões. Em Salvador, os cultos africanos somente começam a ser praticados abertamente a partir do século XIX, e são severamente perseguidos pela polícia.
È em 1830 que algumas mulheres negras originárias de Ketu, na Nigéria, e pertencentes à irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, reuniram-se para estabelecer uma forma de culto que preservasse as tradições africanas aqui no Brasil. Esta reunião aconteceu na antiga Ladeira do Berço, hoje, Rua Visconde de Itaparica, próximo a Igreja da Barroquinha na cidade de São Salvador.
Este culto da forma como é praticado no Brasil, e na Bahia principalmente, não existe na África. O que se pratica nos países do continente africano é o que chamamos de culto à “orisá”, ou seja, cada região africana cultua uma só divindade, e só inicia elegun ou pessoa daquele orisá. No candomblé de nação Ketu, ou nagô como eram mais popularmente conhecidos, as divindades são chamadas de Orixás; no candomblé de nação Jeje são chamados de Voduns, e no candomblé de nação Angola de Inkices. Assim, em cada região da áfrica, em cada etnia se cultua um Inkice, um Vodun, um Orixá diferente.
5. Os jornais como mecanismo de perseguição
A  repressão aos candomblés era sustentada também através das denúncias feitas pelos jornais da época. João Reis em seu livro Domingos Sodré (2008) utiliza a documentação produzida pelo personagem principal _ negro africano trazido para o Brasil para trabalhar como escravo na produção de açúcar no inicio do século XIX _ e sobre a sociedade da época.
 “O suicídio e bem assim a doudice é resultado de crimes ofensivos da moral, e da religião: as casas de candomblé estão dentro e no arredor da cidade! E não há o que investigar!!!… E as casas, oráculos da superstição que dão estes tristes e horrorosos acontecimentos, devem progredir? Não. E não há o que investigar!!!”[5]. “Primeiramente levo ao conhecimento de V.Sa. que tal batuque não se deu, do que estou bastante informado, e que os africanos estavam em seus trabalhos, e isto não é mais do que perseguição, e se V.Sa. por acaso vier uma tarde ver a lavoura destes Africanos se admiraria, e então quereria até garantir-los nesta freguesia, portanto é justo que à vista desta perseguição V.Sa.os deve mandar soltá-los, e se assim o fizer obra com muita justiça”[6].
A imprensa aparenta ter sido mais combativa na perseguição dos “batuques” do que as autoridades policiais, assumindo o discurso de civilizar os costumes. Sem dúvida, os cultos africanos existiriam sempre no Brasil colonial, escondidos, intermitentes, buscando escapar à repressão e a sociedade dominante, que somente se preocupava quando suspeitava que pudessem por em perigo a ordem pública.
5.1 O advento da República e a “Abolição da Escravidão”.
Após 13 de maio de 1888, as autoridades baianas se preocupavam com o rumo que a cidade, e principalmente os negócios iriam tomar. Em seu livro O poder dos candomblés, Edmar ferreira, nos faz  refletir sobre a tentativa do governo em apagar a memória da população afro-brasileira, considerada selvagem e primitiva (no sentido pejorativo da palavra).
O Brasil independente, civilizado, modelado a partir de padrões europeus contava com a impressa para controlar essa almejada civilização. Essa disputa pelo imaginário da nação não se inaugurou com a República, no entanto, a partir dela assumiu novos contornos. A reformulação do sistema legal tencionava interferir em todas as relações sociais engendradas no espaço público.
Os ganhadores e ganhadeiras foram obrigados a se inscrever na secretaria de intendência e receber um número de controle que deveriam usar sempre. Além disso, vários impostos foram criados para a população que tirava o seu sustento das ruas, com o intuito de diminuir a circulação desses negros dos locais públicos, e até mesmo, reduzir a capacidade de sobrevivência desses povos. Também foram proibidos os “bandos de mascarados”, os fogos de artifício, a embriaguez, “palavras e gestos contra a moral”, e quaisquer divertimentos a partir das 22horas (inclua-se o candomblé).  Com certeza, essas leis não foram seguidas à risca e isso levava a impressa local, principalmente o jornal do grupo político na oposição, a questionar a fiscalização municipal.
Nos jornais, a experiência dos populares pode ser classificada em duas esferas: o mundo do trabalho e o mundo do lazer. A primeira é valorizada como constituinte de cidadania, da moral, da ordem pública e da civilização. A segunda, o mundo do lazer, pode ser dividida em duas outras partes distintas: a ludicidade religiosa cristã, valorizada e incentivada pelas irmandades católicas; e a ludicidade profana, vista como fruto da ociosidade, geradora de desordens  e imoralidades. Portanto, é sobre a esfera do lazer dos populares e suas práticas religiosas não-cristãs que vão incidir as campanhas civilizatórias desencadeadas por setores da classe dominante[7].
As denúncias contra os encontros lúdicos e religiosos dos negros aparecem de duas maneiras nos jornais. Algumas vezes elas são levadas a redação por vizinhos ou anônimos, e outras vezes resultam das investigações por parte dos repórteres do períodico. E são destas investigações que temos a publicação no Diário de Noticias, em 14 de setembro de 1951, da reportagem “O Deus tem sede de sangue”;  uma matéria que anunciava a chegada da Revista O Cruzeiro na Bahia no dia seguinte. Nela o Diário de Noticias, assim como os jornais da época, publicaram fotografias de uma iniciação no Candomblé.
José Medeiros. Foto publicada pela Revista O Cruzeiro. Bahia-Brasil. 1951.
As fotografias sobre rituais afro-brasileiros foram realizadas por José Medeiro, publicadas primeiro na Revista o Cruzeiro e depois como livro “O Candomblé”, também publicado em 1957 pela Editora O Cruzeiro.
José Medeiros. Capa do Livro “O Candomblé”. Publicado pela editora O Cruzeiro em 1954.
Em entrevista com o autor das fotos, Fernando Tacca em seu livro Imagens do Sagrado traz mais detalhes sobra a repercussão dessas fotos: “Disse ele (José Medeiros) que em 1951, sentido-se importunado e incomodado por imagens sobre candomblé publicadas por um estrangeiro, resolveu fazer uma reportagem mostrando os aspectos inacessíveis ao olhar leigo dos rituais de iniciação dessa religião afro-brasileira. Segundo ele, a reportagem estrangeira não mostrava o “verdadeiro candomblé”.
Como era costume no processo de decisão de pauta em O Cruzeiro, os fotógrafos tinham autonomia para propor e conduzir uma reportagem. Junto com o jornalista Arlindo Silva, partiu ele para a Bahia,
para tentar uma documentação original dos rituais secretos do candomblé. A dificuldade de aproximação nos terreiros tradicionais levou-os a procurar alternativas e um guia indicou-lhes uma casa não tradicional, na qual três iaôs 3 estavam em reclusão e em processo de iniciação. Assim, ele encontrou um guia que o conduziu a um terreiro na periferia, no qual estariam sendo iniciadas as três iaôs: o Terreiro de Oxóssi, da mãe-de-santo Mãe Riso de Plataforma. Contou-nos Medeiros que “pagou” a mãe-de-santo para fotografar as três iaôs dentro de sua reclusão, as etapas do ritual de iniciação e a festa de saída. “Na verdade, o “pagamento” referia-se aos bichos e outros ingredientes necessários para o ritual.”
José Medeiros. A imagem da iaô, a noviça que passa pelo ritual de iniciação para se tornar filha-de-santo. BAHIA / Brasil. 1951
Talvez para Medeiros, a publicação das imagens que mostravam cenas de sacrifício de animais, cenas internas da reclusão e detalhes do processo ritualístico não pudessem causar tantos problemas aqueles indivíduos evolvidos no processo. No entanto, a polêmica no meio do Candomblé na Bahia levou ao não reconhecimento das iaôs, ficando assim marginalizadas dentro da religião, com conseqüências graves para elas
A mãe-de-santo teria também sofrido muitas perseguições dentro do meio religioso e até mesmo tendo de explicar suas razões de deixar-se fotografar em uma delegacia de polícia.
A Federação dos Cultos Afro-Brasileiros, denunciou Mãe Riso da Plataforma para a polícia e criou uma hostilidade com características agressivas e violentas contra ela em Salvador. Fazendo publicar um anúncio, no dia 22 de novembro de 1951, no jornal A Tarde, a Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros confirmou o impacto expressivo dessas fotografias:
“A Federação Bahiana de Culto Afro-Brasileiro tem a grata satisfação de convidar todos os terreiros, os simpatizantes do culto, a imprensa e o povo, em geral, para assistirem à assembléia geral extraordinária, a realizar-se no Domingo, 25 do corrente, às 14:00 horas, 1º andar, defronte à entrada do Cinema Liceu, a fim de especialmente julgar conveniente as publicações que foram feitas nas revistas ‘Paris Match’ e ‘O Cruzeiro’, a respeito do culto africano na Bahia”.
É notório que, já na década de 50, existia uma organização a nível federal capaz de “controlar” e criar normas para os cultos de matriz africana. O que só reafirma a idéia do resgate, da manutenção da herança negra. Uma vez que, os “batuques”, os candomblés sempre coexistiram com as perseguições senhorias, policiais; e para isto criaram mecanismos de resistência, através das irmandades, do sincretismo religioso. Logo, se os mecanismos de repressão mudaram, as formas de resistência desse legado negro também se modificaram, prova disso é a utilização, também do jornal, pelo “povo de santo” para posicionar-se quanto o preconceito e a intolerância religiosa.
Conclusão
Entender a repressão do candomblé através dos jornais do século XX é elucidar o papel da mídia no século XXI, tanto em relação aos candomblés, com emissoras de TV protestantes propagando a intolerância religiosa, quanto à sociedade como um todo. A proclamação da república e a abolição dos negros não foram suficientes, e nem quiseram ser, para por fim aos preconceitos trazidos com a escravidão realizada nas Américas.
Acredito que a metodologia utilizada ajudou a organizar melhor as informações sobre a permanência das repressões _ ao negro e a tudo que fosse contrario a idéia de civilização _ durante o período republicano. Dividindo a sociedade em classes podemos visualizar as pequenas modificações ocorridas na transição do poder dos senhores de escravos para a burguesia.
Assim, este artigo permite avaliar qual a ”imagem” do negro, antes escravo, agora liberto, na sociedade baiana; o que inspira outras leituras sobre grandes personalidades negras _ como Pedro Arcanjo e o”Rei King” (título retirado da reportagem publicada no Diário Oficial do Estado da Bahia, em 1990) _ que a historiografia positivista anulou dos livros didáticos, e do conhecimento da sua própria população.

* Juliana Souza dos Santos. Estudante de Licenciatura e bacharelado em História pela UCSAL, estagiária do Centro de Memórias – FPC e Professora estagiária do Colégio Estadual Tereza Conceição de Menezes.

Por que o culto do orixá é chamado de CANDOMBLÉ?

Em 1830, algumas mulheres negras originárias de Ketu, na Nigéria, e pertencentes a irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, reuniram-se para estabelecer uma forma de culto que preservasse as tradições africanas aqui, no Brasil.

Segundo documentos históricos da época, esta reunião aconteceu na antiga Ladeira do Bercô; hoje, Rua Visconde de Itaparica, próximo a Igreja da Barroquinha na cidade de São Salvador - Estado da Bahia.

Desta reunião, que era formada por várias mulheres, conforme relatei anteriormente, uma mulher ajudada por Baba-Asiká, um ilustre africano da época, se destacou:

- Íyànàssó Kalá ou Oká, cujo o òrúnkó no orixá era Íyàmagbó-Olódùmarè.

Mas, o motivo principal desta reunião era estabelecer um culto africanista no Brasil, pois viram essas mulheres, que se alguma coisa não fosse feita aos seus irmãos negros e descendentes, nada teriam para preservar o "culto de orixá", já que os negros que aqui chegavam eram batizados na Igreja Católica e obrigados a praticarem assim a religião católica.

Porém, como praticar um culto de origem tribal, em uma terra distante de sua ìyá ìlú àiyé èmí, ou a mãe pátria terra da vida, como era chamada a África, pelos antigos africanos?

Primeiro, tentaram fazer uma fusão de várias mitologias, dogmas e liturgias africanas. Este culto, no Brasil, teria que ser similar ao culto praticado na África, em que o principal quesito para se ingressar em seus mistérios seria a iniciação. Enquanto na África a iniciação é feita muitas vezes em plena floresta, no Brasil foi estabelecida uma mini-África, ou seja, a casa de culto teria todos os orixás africanos juntos. Ao contrário da África, onde cada orixá está ligado a uma aldeia, ou cidade por exemplo: Xangô em Oyó, Oxum em Ijexá e Ijebu e assim por diante.

Mas, por que esse culto foi denominado de CANDOMBLÉ?

Este culto da forma como é aqui praticado e chamado de Candomblé, não existe na África. O que existe lá é o que chamo de culto à orixá, ou seja, cada região africana cultua um orixá e só inicia elegun ou pessoa daquele orixá. Portanto, a palavra Candomblé foi uma forma de denominar as reuniões feitas pelos escravos, para cultuar seus deuses, porque também era comum chamar de Candomblé toda festa ou reunião de negros no Brasil. Por esse motivo, antigos Babalorixás e Yalorixás evitavam chamar o "culto dos orixás" de Candomblé. Eles não queriam com isso serem confundidos com estas festas. Mas, com o passar do tempo a palavra Candomblé foi aceita e passou a definir um conjunto de cultos vindo de diversas regiões africanas.

A palavra Candomblé possui 2 (dois) significados entre os pesquisadores: Candomblé seria uma modificação fonética de "Candonbé", um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de "Candonbidé", que quer dizer "ato de louvar, pedir por alguém ou por alguma coisa".

Como forma complementar de culto, a palavra Candomblé passou a definir o modelo de cada tribo ou região africana, conforme a seguir:

Candomblé da Nação Ketu

Candomblé da Nação Jeje

Candomblé da Nação Angola

Candomblé da Nação Congo

Candomblé da Nação Efon

A palavra "Nação" entra aí não para definir uma nação política, pois Nação Jeje não existia em termos políticos. O que é chamado de Nação Jeje é o Candomblé formado pelos povos vindos da região do Dahomé e formado pelos povos mahin.  

Os grupos que falavam a língua yorubá entre eles os de Oyó, Abeokuta, Ijexá, Ebá e Benin vieram constituir uma forma de culto denominada de Candomblé da Nação Ketu.

Ketu era uma cidade igual as demais, mas no Brasil passou a designar o culto de Candomblé da Nação Ketu ou Alaketu.

Esses yorubás, quando guerriaram com os povos Jejes e perderam a batalha, se tornaram escravos desses povos, sendo posteriormente vendidos ao Brasil.

Quando os yorubás chegaram naquela região sofridos e maltratados, foram chamados pelos fons de ànagô, que quer dizer na língua fon "piolhentos, sujos" entre outras coisas. A palavra com o tempo se modificou e ficou nàgó e passou a ser aceita pelos povos yorubás no Brasil, para definir as suas origens e uma forma de culto. Na verdade, não existe nenhuma nação política denominada nàgó.

No Brasil, a palavra nàgó passou a denominar os Candomblés também de Xamba da região norte, mais conhecido como Xangô do Nordeste.

Os Candomblés da Bahia e do Rio de Janeiro passaram a ser chamados de Nação Ketu com raízes yorubás.

Porém, existem variações de Nações, por exemplo, Candomblé da Nação Efan e Candomblé da Nação Ijexá. Efan é uma cidade da região de Ilexá próxima a Osobô e ao rio Oxum. Ijexá não é uma nação política. Ijexá é o nome dado às pessoas que nascem ou vivem na região de Ilexá.

O que caracteriza a Nação Ijexá no Brasil é a posição que desfruta Oxum como a rainha dessa nação.

Da mesma forma como existe uma variação no Ketu, há também no Jeje, como por exemplo, Jeje Mahin. Mahin era uma tribo que existia próximo à cidade de Ketu.

Os Candomblés da Nação Angola e Congo foram desenvolvidos no Brasil com a chegada desses africanos vindos de Angola e Congo.

A partir de Maria Néném e depois os Candomblés de Mansu Bunduquemqué do falecido Bernardino Bate-folha e Bam Dan Guaíne muitas formas surgiram seguindo tradições de cidades como Casanje, Munjolo, Cabinda, Muxicongo e outras.

Nesse estudo sobre Nações de Candomblé, poderia relatar sobre outras formas de Candomblé, como por exemplo, Nàgó-vodun que é uma fusão de costumes yorubás e Jeje, e o Alaketu de sua atual dirigente Olga de Alaketu.

O Alaketu não é uma nação específica, mas sim uma Nação yorubá com a origem na mesma região de Ketu, cuja sua história no Brasil soma-se mais de 350 (trezentos e cinquenta) anos ao tempo dos ancestrais da casa: Otampé, Ojaró e Odé Akobí.
 

A verdade é que o culto nigeriano de orixá, chamado de Candomblé no Brasil, foi organizado por mulheres para mulheres. Antigamente, nas primeiras casas de Candomblé, os homens não entravam na roda de dança para os orixás. Mesmo os que tornavam-se Babalorixás tinham uma conduta diferente quanto a roda de dança. Desta forma, a participação dos homens era puramente circunstancial. Daí ter-se que se inserir no culto vários cargos para homens, como por exemplo, os cargos de ogans.

Hoje, a palavra Candomblé define no Brasil o que chamamos de culto afro-brasileiro, ou seja: "UMA CULTURA AFRICANA EM SOLO BRASILEIRO".

Um pouco da hitoria do EFON

Efon
Efon(se pronuncia Éfan, que significa Osun) é uma nação do candomblé oriunda das terras de Ekiti-Efon (não confundir com Ifon, a terra de Oxalufon), no Brasil usa-se o termo "Lokiti Efon" e onde reina absoluta a rainha da nação no Brasil, ou seja, Osun, filha de Olookè, patriarca da nação, o Leão da Montanha, o o mesmo é Orisà da Montanha. Inicialmente veio pro brasil pelas mãos de dois Africanos Tio Firmo, conhecido como Baba Irufà, iniciado pra Osun e Adebolui, mais tarde chamada de Maria Violão (nome esse dado, devido às formas de seu corpo) posteriormente iniciada para o Orisà Olookè. a Nação foi Instalada no Engenho Velho de Brotas - Brotas - Salvador - BA. Muitos dizem que é uma nação quase extinta, o que na verdade é pura bobagem, pois enquanto existir Osun, Olookè e todos os Orisàs, Efon permanecerá vivo em Nossos Corações. A Injò Layò, Omo Ti Efon Farayò - Dance pra Felicidade, os Filhos de Efon Nascem pra Felicidade.


Efon é uma Área de Governo Local do Ekiti (estado), Nigéria. Sua sede fica na cidade de Effon-Alaiye.
Possui uma área de 232 km² e uma população de 86.941

ORI

Mesmo se nosso òrìsà está bem, só ficará tudo bem se o nosso Òri estiver também"
Para termos idéia quanto da importância e precedência do ORI em relação aos demais ORIXAS;
"OGUN chamou ORI e perguntou-lhe, “Você não sabe que você é o mais velho entre os ORIXÁS”? Que você é o líder dos ORIXÁS? “
Sem receio podemos dizer, “ORI mi a ba bo ki a to bo ORISA”, ou seja, “Meu ORI, que tem que ser cultuado antes que o ORIXÁ” e temos um oriki dedicado à ORI que nos fala que “ Ko si ORISA ti da nigbe leyin ORI eni”, significando, " Não existe um ORIXÁ que apoie mais o homem do que o seu próprio ORI".

Quando encontramos uma pessoa que apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados de realização na vida , podemos dizer, "ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI", ou seja, "as pessoas não querem que você sobreviva, mas o seu ORI trabalha para você", trazendo, nessa expressão, um indicador muito importante de que um ORI resistente e forte é capaz de cuidar do homem, de lhe garantir a sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente. Esta é a razão pela qual o BORI, forma de louvação e fortalecimento do ORI utilizada em nossa religião, é utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e consequente integração com suas fontes de vitalidade.

É importante dizer que é o ORI que nos individualiza e, por conseqüência, nos diferencia dos demais habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. Sinalizando essa condição, talvez uma das maiores lições que possamos receber com respeito ao ORI;

"Uma pessoa de mau ORI não nasce com a cabeça diferente das outras.
Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.
Uma pessoa que é líder não é diferente
E também é difícil de ser reconhecida.
É o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFA.
Tanto esposo como esposa não deviam se maltratar tanto,
Nem fisicamente, nem espiritualmente.
O motivo é que o ORI vai ser coroado
E ninguém sabe como será o futuro da pessoa."

Para os Yorubás o ser humano é descrito como constituído dos seguintes elementos: ARA, OJIJI, OKAN, EMI e ORI.

ARA é o corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes. OJIJI é o "fantasma" humano, é a representação visível da essência espiritual. OKAN é o coração físico, sede da inteligência, do pensamento e da ação. EMI, está associado à respiração, é o sopro divino. Quando um homem morre, diz-se que seu EMI partiu.